Já fui jovem
e em determinada altura pensava que sabia tudo, muito mais que aqueles “velhos
professores ou velhos militares” que
“pararam no tempo”. Mas, felizmente, essa “febre” passou-me depressa.
Quando fui
para a Marinha, encontrei jovens provenientes de todo o país, onde havia de tudo, desde os mais ingénuos aos
muito vividos, dos pacatos aos traquinas, dos estudiosos aos grandes
“calaceiros”. E, como em todas as escolas, quartéis ou outros estabelecimentos
de ensino também existiam os “profissionais” das cábulas e dos copianços.
Tive
diversos professores e instrutores cada um com a sua maneira de ser e de
ensinar. Curiosamente, aquele que mais me marcou em termos militares foi o
Sargento Bicho. Por sinal não era um bicho mas um excelente homem! De espírito
vivo, inteligência rara e excelente cultura geral, tinha grande rapidez de
raciocínio, óptima voz de comando e resposta rápida. ´
Nisto de
reações rápidas, conta-se que numa universidade decorria uma aula com toda a
normalidade quando um dos alunos sentado nas carteiras da frente “largou” um
estrondoso e sonoro “traque ou peido” deixando a malta a rir. Lá no fundo, o
Paulo que era irreverente e reativo, levantou-se, saltou para cima da carteira
e com um gesto dramático, anunciou: “E soa a trombeta castelhana…”
O professor,
homem magro e de estatura baixa, como que disparado por uma mola e em jeito de
copianço do Paulo, pôs-se em pé em cima da cadeira, estendeu o braço e, com voz
imperial, retorquiu: “Então ponha-se imediatamente lá fora para ver se os
espanhóis estão a chegar…”
Sempre se
confrontaram as partes, estando de um lado a jovialidade, a irrequietude e a
irreverência dos alunos ou instruendos e, do outro, a sabedoria, a experiência
e a tranquilidade dos que mandam, nesse processo complexo e muito importante
que é a educação. Noutros tempos existia muito mais respeito de alunos para com
professores do que agora, incomparavelmente, mas não quer dizer que não
tentassem fazer-lhes alguma malandrice. E essa vontade de o pôr em causa
mantem-se através dos tempos.
Numa
universidade brasileira os alunos de uma turma resolveram divertir-se à custa
de um professor. Arranjaram um burro, fecharam-no na sala onde seria dada a
aula e esconderam-se perto da porta de entrada para gozarem com a previsível
reação do mestre. Este chegou de pasta na mão, abriu a porta, entrou e fechou-a
atrás de si. E os alunos ficaram na espectativa.
O tempo foi
passando sem que o professor desse acordo de si, até que o sinal sonoro assinalou
a hora de saída. Então viram a porta abrir-se e ele a sair descontraidamente de
pasta na mão, como se nada de anormal se tivesse passado. A frustração foi geral,
porque não deu oportunidade ao esperado gozanço.
O professor
deu a aula seguinte com toda a naturalidade, sem fazer qualquer alusão ao
ocorrido, como se não tivesse apercebido de nada mas, um pouco antes de acabar
e quando já todos arrumavam as coisas para saírem, pediu aos alunos um momento
de atenção e disse-lhes: “Amanhã haverá teste. A matéria é a que foi dada na
aula anterior. Se tiverem dúvidas, perguntem ao vosso único colega que esteve
cá”.
Ao outro dia
houve teste e, claro, tiveram todos zero…
O povo, na
sua sabedoria, resume tudo isto numa simples frase: “Ir buscar lã e sair tosqueado”.
Já Bernard
Baruch dizia que, “em cada profissão é preciso uma dose de sabedoria para se
perceber, a cada mudança, a extensão da própria ignorância”.
Ora, com
burros, nem para o céu...
2 comentários:
comentários para quê ?
Belíssimo artigo! Camarada.
Não haverá uma foto por aí com o Sargento Bicho?
Cara que para mim, deve estar em limbo...
Abraço.
Enviar um comentário