segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os Intocáveis (The Untouchables)

Vou tentar contar uma história analógica: Vivia eu num prédio que tinha alguns anos mas estava bem cuidado, porque sempre que era preciso e podíamos, fazíamos obras de conservação. Uma vez ou outra (quando sobrava dinheiro) melhorávamos algumas outras coisas… porta automática, TV Cabo, mas só excepcionalmente fazíamos obras de fundo. O valor da mensalidade era bastante razoável. Não era um luxo mas gostávamos do nosso prédio.
Um dia veio para lá morar um novo inquilino. Logo de início propõe-se assumir a administração do condomínio, o que aliás, era tarefa de que todos gostavam (ao contrário do que é costume).
Apresenta ideias encantadoras… o prédio não podia continuar assim, havia que fazer melhorias visíveis. Propõe a colocação de elevador, criar um espaço de lazer para os moradores, aquecimento central no prédio e mais umas coisas que… logo se veria. Em reunião os condóminos perguntaram quem é que vai pagar aquilo tudo. “Isso não é problema, é preciso ter visão do futuro, criar condições para que os nossos filhos se sintam bem e gostem de viver neste prédio, senão um dia fica vazio “dizia o artista,”o que pagam por mês chega e sobra para as obras, além disso há quem esteja disposto a investir aqui sem querer nada em troca… ou quase nada. Um verdadeiro progressista! A malta desconfiava mas lá foi aceitando a coisa. Apareceram dois elevadores e para o efeito a escadaria principal é destruída. Entretanto começam a ver-se muitas obras no apartamento do inquilino.
O tempo vai passando e um dia, em reunião, ele anuncia que afinal é preciso aumentar um bocadinho a mensalidade porque o custo das obras foi além do esperado inicialmente. Ainda assim, aquele maluco manda pôr uma escada rolante que foi um verdadeiro encanto e brinquedo para as crianças… Mais uns tempos e, o resto do prédio começa a precisar de obras mas não há dinheiro…
Vamos ver, vamos ver se dá… O que há para já é para os elevadores.
No apartamento do novo inquilino o luxo é evidente, ninguém percebe onde ele vai buscar tanto graveto, mas tudo lá aparece. O prédio começa a deteriorar-se a pouco e pouco. Mas não há dinheiro…está todo metido nos elevadores… e na escada rolante. Nova reunião e o “administrador”, pigarreando e com a voz embargada anuncia…
Não há dinheiro. O prédio precisa de obras mas não há dinheiro. Temos que agir e esforçarmo-nos para fazer face a este problema. Quem quiser utilizar os elevadores terá que pagar cada vez que se servir deles. Além disso a prestação será aumentada. Só eu é que não pagarei, como até agora, porque sou o administrador.
- E as escadas onde estão? As alternativas seriam as escadas e essas foram destruídas para se colocarem os elevadores? Vamos passar por onde e em que condições?
- Pois, pois, eu sei…eu sei, não sei…lamento muito.
Esta é uma história análoga as SCUTS. Sempre entendi que se deviam pagar portagens. O princípio do utilizador/pagador. Em nenhum dia circulei na A4 sem ter de pagar portagem. Aliás, até ao dia em que um “iluminado” veio para cá com tal ideia, nunca tal tinha passado pela cabeça dos portugueses.
O que se exige sim, são alternativas decentes. Que não se façam Auto-estradas para tudo quanto é terrinha com a tanga da criação de condições de desenvolvimento, diminuição das assimetrias entre litoral e interior (que sempre existirão) e outras balelas que nos vão contando para encher os bolsos de muito “boa gente”.
Pergunto muitas vezes…se criassem entre Penafiel e o Porto uma via do tipo existente entre Penafiel e Lousada quem é que iria pela A4? (haveria mais exemplos)
O problema é que os nossos políticos não pensam no país. O pensamento é…primeiro eu, segundo nós, terceiro o partido e em quarto, se restar alguma coisa e houver tempo e paciência, o país.
São estas e outras que contribuem para o estado em que estamos e para que se diga com a maior cobardia de um cara de pau: “O problema é da crise internacional”. (The problem is the international crisis)

2 comentários:

Valdemar Marinheiro disse...

Com cabeça tronco me membros.
Um exemplo ilucidativo.
Já andam para aí uns tantos profetas da desgraça agoraarvorados em salvador da Pátria que encontram no fundo da cartola soluções parab tudo até para aquilo queeles próprios destruíram e esbanjaram em tempo de Vacas Gordas.
Todos tem soluções para tudo coligações etc.etc. etc. Mas nenhum desses figurões aceitam irem a votos apenas e só afastar Sócrates e o Milagre dá-se.
Este País de Marinheiros heróicos que deram novos Mundos ao Mundo mereciam serem homenageados de forma bem mais digna.
Esta farinha do mresmo saco vai ser difícil substituí-la ou obrigá-la a darem massa de qualidade transparente.
NInguèm se preocupa com a vinda dacimeira da Nato e dos muitos Milhões que o Zé- Povinho vai ter de pagar.
Mas como os três grandes ganharam em Futebol, houve castanhas e vinho no S.Martinho as SCUT já não é importante.
Não há pior cego do que aquele que não quer ver

Observador disse...

A estrada que mais utilizo, e que não se pagava portagem é a C.R.E.L. aqui ás portas de Lisboa, quando deixou de ser á borla, também não fiquei satisfeito, mas concordo que sejam os seus utilizadores a pagar a sua construção/manutenção, não faz sentido serem todos os Portugueses a pagaraem estradas que não utilizam.
A história do Administrador de Condominio cai que nem uma luva neste Primeiro Ministro, e também nos antecedentes, pois foi sempre gastar á tripa forra.
Um abraço
Virgilipo