quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Três quadros muito tristes...

Os tempos de crise são tempos de angústia e até de humilhação envergonhada.
Procuro estar atento ao mundo que me rodeia e às situações de carência extrema noticiadas na imprensa, como estas apresentadas pelo jornalista Luís Osório nos seus “ficheiros secretos”. Transcrevo-as com algum retoque meu, porque senti um peso na alma e uma dor no coração, ao constatar tais evidências que são o arrepio da nossa sociedade: a pobreza!
Certa mulher honesta, sempre cumpridora da sua palavra, comprava carne num talho próximo. O proprietário sempre a atendia com agrado, firmado na sua palavra cumpridora.
Mas os dias passaram a ser diferentes. A fome tinha chegado e o dinheiro – pouco – desaparecia. Foi ao talho comprar algo para a refeição da sua família. Já não tinha dinheiro e a sua “palavra” começava a faltar.
O talhante embrulhou-lhe um osso num papel grosso e ela foi fazer uma sopa gostosa para a sua família. Um osso!
Outra pobre mulher tentou-se no supermercado e, instigada pela fome, roubou um bife de peru. Foi apanhada e presa. Julgada, foi condenada a 60 dias de trabalho comunitário numa cantina. Roubara para comer…
Neste mar de miséria, verificamos uma atitude curiosa, numa cantina onde muita gente de classe média tomava as refeições.
As voluntárias que serviam as refeições disseram que agora muita gente da classe média lá ia comer uma refeição gratuita. E disse ainda que algumas pessoas, envergonhadas, comiam de rosto virado para a parede para não serem reconhecidas.
Uma das serventes chamou pelo nome um indivíduo já habitual que comia virado para a parede. Não queria que o identificassem e ficou aborrecido. Era um professor liceal que, humilhado pela crise, ali vinha matar a fome.
Nos subterrâneos da miséria, quanta gente, acicatada pela fome, levada pelo desespero, procura sustento para sobreviver, porque o dinheiro não chega!
Três quadros tristes, como tantos outros que vão surgindo, em busca de alimentos para aguentar a vida. E, tanta gente esbanjando, estragando e outros roubando sem necessidade.
Quem pode acudir a este povo? Quem poderá matar a fome a esta gente? São horas ou mais que horas, para que os nossos governantes possam mostrar um pouco de sentimento e alguma sensatez, no seu olhar, que sempre desviam, quando as coisas lhes mostram a miserável situação daqueles que passam fome…

2 comentários:

Observador disse...

É um choque para quem, como nós viveu uma época de miséria, e pensámos que não se voltaria a repetir, enganámo-nos, ou enganaram-nos, penso que foi antes a segunda, confiámos e ttalvez não devêssemos confiar na «casta» que tomou conta do Pais e do Mundo, e que levou a este descalabro.
Um abraço
Virgilio

Valdemar Marinheiro disse...

Ai Ai e é de agora!!!
Repara que nós no Lago Niassa:- Antes de abater as Vacas, faziamos-lhe uma pega de caras para elas não se cansarem tanto e os poucos bifes que davam o Gato era o seu mais proveitoso cliente. Os ossos eram para dar gosto à sopa, mas as desgraçadas, pareciam que nem ossos tinham.
Não fosse ter de comer o gato e matar e depois desenterrar as Galinhas que os Marinheiros que lá íam e as traziam do Malawi e a coisa estaria preta e a fome maning, pois a receita seria o Bacalhau enlatado vindo da África do Sul e o arroz de Xaw Xaw.
Só não dava.