quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Encontrar flores num deserto...

Porque as politiquices vão azedando o estômago e criando dissabores entre amigos (?), deixo-vos uma história para vos retemperar o espírito e recompor a vossa esperança de homens maduros, capazes de crivar as sementes para que fiquem limpas das impurezas que as acompanham desde a colheita… e também para desviar os vossos caprichos e atenções para actos ou coisas mais proveitosas e adequadas às circunstâncias do momento actual.
Vejamos: Neste mundo egoísta, de indiferença cruel, de falta de atenção aos problemas difíceis dos outros, é admirável e motivo de alegria, verificar uma atitude generosa e simpática que vivi certo dia, algures num pacato local mas endiabrado como podereis observar.
Como católico dirigi-me a uma celebração litúrgica vespertina, numa paróquia, onde por razões óbvias me encontrava depois de uma reunião.
No fim da celebração encontrei um trânsito caótico desviado através de um bairro, em virtude de obras nas ruas circundantes. Era já noite escura e não consegui ler as placas indicadoras de desvios. Entrei numa rua errada e segui tentando encontrar o caminho que desejava, mas emaranhei-me em ruas desconhecidas e complicadas. Perguntei a várias pessoas, mas ninguém me dava uma explicação clara para eu sair dali. Alguns, desconfiados pela minha aparência de “ladrão”, nem resposta me davam.
Quase me atrevia a ligar para o 112. Tal era a situação… Parei numa rua mais ampla. Atrás de mim parou um carro. Sai e pedi informações aos ocupantes dessa viatura. Dentro um casal e uma criança. Perguntei:
Podem fazer o favor de indicar-me como posso ir para tal parte? O condutor, olhou-me, mirou-me, pensou uns momentos e disse-me: - É difícil, mas eu vou indicar-lhe. Siga-me: Passou o carro para a frente do meu e comecei a segui-lo com muita atenção. Andou, andou, atravessou bairros e eu olhando atónico para aquela eternidade… Depois de alguns minutos de marcha, chegou ao local que eu lhe pedira e que eu já conhecia melhor. Encostou o carro ao lado da rua e eu parei ao lado dele.
- Muito obrigado, disse-lhe eu, levantando o braço em sinal de gratidão, não sem ouvir umas fortes buzinadelas que me fizeram lembrar o campeonato do mundo, na África do Sul. Ele sorriu, levantou o braço, correspondendo ao meu gesto e cada um seguiu o seu destino.
Fui a pensar, feliz: - Ainda há gente boa neste mundo materialista e cheio de questiúnculas. Fiquei com pena por não saber o nome e endereço da pessoa tão bondosa, para lhe agradecer por escrito aquela prestimosa ajuda maior do que a informação que lhe solicitei. (Como fazem falta uns cartõezitos de visita e então a Internet para ocasiões destas?)
Também aquele desconhecido deve ter regressado a casa de consciência jubilosa, como sentimos quando ajudamos alguém a ser feliz.
Contei este episódio, porque os bons exemplos são frutuosos. É de louvar ao Senhor, que nos oferece flores desta beleza em caminhos inesperados e áridos da vida no meio do longo deserto da agonia e do desespero…

2 comentários:

Valdemar Marinheiro disse...

Não seria correcto da minha parte se não me referisse ao que vem em primeiro:-
Começo por dizer que nunca deveremos dar importância superior às coisas ou casos do que aquilo que eles realmente merecem.
Quando me encontrava em Nampula/Moçambique em 1970 a 1972, juntamente com dois Comandantes criamos uma Cadeia Filatélica e de Decalcomanias. Trocavamos selos e Postais e os tais de Bicharada (Decalcomanias).
Tinhamos cada um de nós uma relacção de faltas de selos. Enviados pelo Correio e recebiamos da mesma forma. Chegamos a ser setenta e dois amigos e desses ainda hoje mantenho contacto com algumas dessas pessoas com quem fui cimentando uma amizade sólida.
Neste percurso até inícios de 1974, houveram uma meia dúzia que não cumpriram e ainda alguns tiveram a desfaçatez de dirigir ataques, porque não cumprindo ainda se julgavam com direitos e os culpados eram os outros.
Esses perderam o comboio e o nosso intercâmbio continuou com solidez. Julgo que em definitivo isto responde a uma importância que foi dada a quem tentou colocar em causa toda a seriedade de quem partilha uma amizade sólida e sabe que se pode expressar livremente dizendo o que lhe vai na alma, sem que do outro lado haja algum ressentimento ou melindre, só porque as opiniões não são coincidentes. Penso que estas bocas que por vezes são lançadas sem um mínimo de fundamento. Mas também tem um lado de positivo (embora não seja essa a intênção) servirem para consolidar ainda mais a confiança de quem anda nisto de boa fé e que tem um coração enorme de bondade e de partilha.
Se isto incomoda alguém!!! As pessoas são livres de entrar e saír quando muito bem o entenderem.
Vou ser repetitivo, mas é para mim de tal importância que não resisto:- Qualquer testemunho ou opinião mantida sobre anónimato representa para mim rigorosamente zero positivo e muito negativo. Anónimo não é rigorosamente nada nestes casos. Outros há que se justificam, mas que não cabem aqui.
O reconhecimento ao que vem expresso no artigo e o acto louvável tem muito valor, e leva-nos a uma séria reflexão.
Se a flor era dádiva da Mãe Natureza, parabéns. Se era artificial, parabéns a ela por proporcionar que haja tão bons artistas e ter filhos dotados desta dignidade superior.

Observador disse...

Não posso deixar de contar aqui uma situação que se passou comigo á muitos anos,que me cdeixou de boca aberta e ao meu Amigo que eu acompanhava: Um dia esse meu Amigo que negoceia em tecidos convidou-me para lhe fazer companhia numa ida a Trofa onde ia adquirir tecidos, chegados ao Porto teve que ir a um Banco, tratar de assunto que se prendia com o negócio que ia fazer, depois de sair do Banco, ficou sem saber o caminho que havia de seguir para a Trofa, perguntámos a um Cavalheiro se nos indicava o caminho, e o Homem desponibilizou-se para nos acompanhar até ao local onde já não havia engano possível e que ficava a uns bons quilómetros, ficámos espantados com tanta amabilidade mas não se recusou a generosa oferta, chegádos á tal estrada, o Homem mandou parar, que ficava ali e nós seguiamos o nosso destino, o meu Amigo quiz dar-lhe dinheiro para o regresso e ele recusou, dizendo então que trabalhava nos Transportes Colectivos do Porto e que até lhe tinha servido de passeio pois estava de folga.
Pois é Amigo Verde ainda há Gente boa neste mundo.
Um abraço
Virgilio