segunda-feira, 21 de março de 2011

O Presidente que não quis ser rei...

George Washington foi o primeiro Presidente dos Estados Unidos e do mundo. As repúblicas existem há milhares de anos, mas os seus líderes usavam outros títulos, como cônsul, doge ou capitão-regente.
No auge da sua popularidade como comandante das tropas americanas que desafiavam a coroa britânica, George Washington chegou a ser desafiado por um grupo mais entusiasmado de patriotas a tornar-se ele próprio rei dos futuros Estados Unidos. Mas nem as remotas origens aristocráticas que faziam dele, um longínquo descendente de Eduardo III de Inglaterra, um monarca do século XIV, deixaram que a sugestão lhe subisse à cabeça. Aliás, o fazendeiro da Virgínia, veterano das guerras contra franceses e índios e líder militar da revolução americana, sempre se mostrou avesso aos cargos de poder. E foram precisos muitos argumentos para o retirarem do seu refúgio de Mount Vernon (onde se recolhera em 1783 assim que foi reconhecida a independência) e assumir, primeiro, a presidência da convenção constitucional e, depois, a presidência da nova república americana. Eleito e reeleito sem rival, Washington limitou-se a ser Presidente por dois mandatos, entre 1789 e 1797, pretendendo dar o exemplo de que nenhum cargo pertence toda a vida a uma pessoa. Uma vez mais mostrava distância para com a tradição real, apesar de na juventude ter sido um súbdito leal. E para a história ficou, se não como o primeiro líder republicano, certamente como o primeiro dos presidentes. Antes dele, as repúblicas eram lideradas por cônsules, doges ou capitães-regentes. Em Outubro de 2008, em vésperas das eleições presidenciais que poriam Barack Obama na Casa Branca, a Newsweek descobriu no Texas aquele que seria hoje Paul I dos Estados Unidos se Washington tivesse aceitado ser coroado. Casado com Marta, o primeiro Presidente dos Estados Unidos não deixou descendência, tendo sim adoptado os filhos da sua mulher, já viúva quando o matrimónio entre ambos se realizou. Mas os seus irmãos tiveram vários filhos e filhas e hoje haverá nos Estados Unidos oito mil pessoas que se podem reclamar da família do primeiro Presidente. Cerca de duzentos são homens que usam o apelido Washington e a revista identificou, com ajuda de genealogistas, que Paul Emery Washington, então com 82 anos, teria direito à coroa americana se esta tivesse alguma vez existido. Tudo porque descende por dupla linhagem de Samuel, o irmão mais velho de Washington, que até foi uma espécie de segundo pai para o futuro Presidente quanto este ficou órfão aos nove anos. Mas nem Paul Emery nem os filhos, três homens e uma mulher, são grandes entusiastas da causa monárquica, apesar do orgulho natural de se chamarem Washington. E em regra os próprios americanos também não, pois mesmo em 1776, quando declararam a independência, os pais fundadores tinham já em vista uma república, sistema mais apropriado à ideia, escrita por Thomas Jefferon, de que todos os homens nascem iguais. Mas mesmo republicano convicto, o eleitorado americano já várias vezes mostrou o seu fascínio pelas dinastias, fosse pela dos Kennedy, que porém só lhes deu um Presidente, fosse pela dos Adams ou pela dos Bush, famílias poderosas que já tiveram dois dos seus membros nessa Casa Branca construída em 1800 na capital baptizada de Washington. Nascido em 1732, Washington morreu em 1799. No seu testamento, libertou o seu criado pessoal, a quem conferiu uma pensão permanente, e ordenou que os escravos da família fossem emancipados no momento da morte de Marta. Perdoou as dívidas da família do seu irmão Samuel (o antepassado do empresário texano Paul Emery) e doou espadas a cada um dos cinco sobrinhos. Não havia, contudo, qualquer coroa para transmitir. Dos strategos ao Presidente. A palavra Presidente bem pode vir do latim e significar aquele que está à frente, mas a República Romana (509 a.C. - 27 a.C.) preferiu sempre chamar cônsules aos seus líderes, até que Augusto a substituiu pelo Império. Já na Democracia Ateniense, que teve o seu momento de esplendor no século V a.C., a palavra strategos servia para designar o chefe político máximo. Péricles foi o mais célebre dos strategos, palavra que costuma ser traduzida por general. Outras repúblicas recorreram também às designações militares para nomear o seu líder, como é o caso de São Marino, desde a época medieval chefiada por um capitão-regente, ou a República Holandesa, que durou dos séculos XVI ao XVIII e sempre foi encabeçada por um lugar-tenente. Já a República Veneziana, que existiu durante mil anos até ser conquistada por Napoleão em 1797, usava a expressão «doge» para o seu líder eleito, palavra que vem do latim dux. Quanto à República Suíça, fundada no século XIII, só a partir de 1848 passou a ter um Presidente. Aliás, data do mesmo ano o primeiro Presidente francês, Luís Bonaparte, mais tarde imperador como o foi o seu tio Napoleão. Na sua primeira versão, a República Francesa, ainda no século XVIII, foi liderada por directores e depois por cônsules. Foram assim os Estados Unidos a inventar o Presidente da República, com George Washington em 1789. O modelo foi imitado primeiro nas repúblicas latino-americanas e só mais tarde na Europa. Hoje, Presidente é o título mais comum para um chefe do Estado. Usam-no cerca de centena e meia de países de todos os continentes.
(Um exemplo, para aqueles que pensam que tudo será deles: os ditadores, os prepotentes e tiranos que este mundo, muito ironicamente, ainda contém…)

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